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quinta-feira, 14 de agosto de 2008

ENTREVISTA COM FELIPE C. MIRANDA DA FCM DECALQUES!

Olá pessoal!
Gostaria de agradecer ao Felipe pela paciência e gentileza ao responder às perguntas e pela boa vontade de cooperar com o blog!!
Um detalhe muito bem lembrado pelo Felipe: "o pessoal fala muito a palavra decal, que vem do inglês, e aportuguesando usa como plural a palavra decais. Mas o correto é decalque, cujo plural é decalques. A palavra decais é a segunda pessoa no singular do presente, do verbo decair... "
Espero que gostem da entrevista!!
Para maiores detalhes sobre os decalques: FCM


1-Como e quando surgiu a idéia/vontade de fabricar decalques?
R: A idéia surgiu muitos anos atrás, diante da vontade que sempre se tinha naquela época de fazer os aviões da FAB. Não tinha como, os únicos decalques que haviam eram aqueles que vinham nos kits da extinta Revell - Kikoler,fora esses havia um decalque ainda mais antigo, feito pelo falecido Dr. Linhares, fundador do IPMS-Brasil, para alguns poucos aviões da FAB. O decalque tinha muitos erros e era de qualidade sofrível, provavelmente porque o Linhares não o guardava corretamente, daí ressecou e ficou quebradiço. Fora isso pra se fazer um avião da FAB só pintando à mão! Havia alguns caras bons de pincel que faturavam alto por insignias e emblemas de esquadrão pintados a mão em decalque transparente. Com isso só quem tinha muita grana podia se gabar de ter um modelo da FAB, muitas vezes pagando por um set de insignias e emblemas para um avião varias vezes o preço do kit!Pra mim a gota d'água foi um dia, em plena convenção do GPPSD, ainda nos salões do extinto Hotel Danúbio, quando vi em um canto dois caras fazendo leilão daqueles decalques do Linhares, e as cotações estavam altas! eu pensei comigo: Isso está errado, isso tem que acabar. Foi quando resolvi começar a ver o que era preciso pra se fazer decalques. Isso aconteceu em 1993.No começo tudo era difícil, eu não tinha computador, e mesmo assim na época não haviam aplicativos gráficos adequados, pra se fazer a arte do decalque, o trabalho tinha que ser manual, feito no papel mesmo. Era preciso fazer a arte do decalque com cinco vezes o tamanho final, pra ser reduzido na fotografia e confecção do fotolito matriz. A coisa era complicada mesmo. Por outro lado haviam promessas de outras pessoas que estariam com planos de fazer decalques também, e como eram pessoas com mais recursos que eu em todos os sentidos, eu acabei deixando na gaveta a idéia, dando preferência a quem supostamente estava na frente. Eu queria decalques da FAB para usarnos meus modelos, se outro fizesse, não teria porquê gastar tempo e grana fazendo... Mas o tempo passou, e as promessas não viraram realidade. Por outro lado a informática evoluiu, eu já tinha meu primeiro computador e conseguia desenhar nele com muito mais precisão que qualquer desenho feito à mão. Eu já desenhava e imprimia artes de decalques como faço agora, mas ainda não sabia como transformar aquela arte em decalque de verdade.Na época eu conheci no Museu AeroEspacial um rapaz que tinha uma lojinha de souvenirs, chamado Helcio, que se interessou pela idéia e disse que entraria em parceria comigo, eu fazendo a pesquisa e a arte e ele entrando com o patrocínio, para marca do decalque ele escolheu "Hangar 9".No entanto algum tempo depois ele que parecia muito empolgado, repentinamente abortou a idéia e falou para que eu esquecesse a coisa, que não valia a pena fazer. Me lembro que ele falou que, consultando um responsável pelo marketing da PEPSI este lhe respondeu que, se ele tivesse "essa" grana pra patrocinar um projeto desses, ele preferiria comprar um carro novo! Não sei de quanto foi o valor do patrocínio que o Helcio pediu, mas pela recusa imaginei ser muita grana mesmo! Isso me fez esfriar um pouco e quase aceitei o conselho do Hélcio de desistir. Se pra materializar a idéia a coisa era assim tão cara, seri complicado mesmo...Como voltei a ficar sosinho nessa empreitada, comecei a correr atrás por conta própria novamente. Foi quando em mais um evento em Sampa, ao mostrar os croquis de decalques que eu projetava para um amigo de Santos, este me passou o telefone da gráfica em São Paulo onde a extinta Revell-Kikoler imprimia seus decalques. Liguei pra lá e fiz um orçamento. Era um valor alto, mas nem de longe o bicho de sete cabeças que o Hélcio demostrou ser pra me fazer desistir!De início tentei a colaboração dos amigos, éramos um grupo de modelismo bastante ativo, e eu não pensava em fazer decalques comercialmente. Em grupo planejamos uma folha de decal que juntasse as versões mais desejadas por todos, e fariamos o decal para nosso uso, dividindo as despesas e o bolo de decalques. Eramos um grupo de oito pra dividir 200 decalques. Se desse certo poderiamos vender o excesso, se fosse um fracasso, pelo menos teriamos bastante coisa pra uso próprio...Porém na hora de fazer a vaquinha... Sempre tinha dois ou tres que não podiam, o que quebrava o grupo. O tempo foi passando e a coisa não acontecia, o empenho era apenas meu e os amigos embora apoiassem, sempe que dinheiro entra no jogo tudo muda... Daí resolvi fazer um empréstimo com meus pais, pois eu acreditava na idéia, e me lancei pra fazer aquele decalque sosinho, no mercado não havia nada e eu acreditava que uma vez materializando aquele decalque, eu poderia separar uns vinte ou trinta pra mim e os restantes, com sorte, conseguiria vender tudo em seis meses.Custei muito a bolar uma "marca" para o decalque, acabei adotando as minhas iniciais pra não perder muito tempo. Projetei a instrução enquanto o decalque era impresso na gráfica, e imprimi em preto e branco uma matriz da instrução, desta fiz cópias Xerox P&B que juntei com o decalque em um saquinho plástico feito de PVC.Foi assim que surgiu o primeiro decalque que fiz, foram dois simultâneos: 48-01 e 72-01. Os quais apresentei pela primeira vez no Salão de Modelismo do Clube Naval no ano de 1996 para vários lojistas presentes.Aquele lote de 200 decalques que eu esperava vender em seis meses, se esgotou em duas semanas! Todos queriam mais, e a partir daí foi como uma bola de neve...

2-Qual a maior dificuldade na confecção dos decalques?
R: A maior dificuldade que eu encaro pra fazer qualquer decalque é sem dúvida a insuficiência de informações. A fonte de dados para fazer os decalques são fotografias. O problema é que, como quase sempre não tenho como ir pessoalmente fazer essas fotos, pela distância fisica ou temporal, dependo de fotos feitas por outras pessoas quase sempre feitas sem o propósito específico para decalques. Praticamente todas as fotos feitas são tiradas por modelistas que fotografam detalhes da maquina, visando usar as fotos pra detalhar o modelo, ou então fotos artísticas tiradas por fotógrafos, profissionais ou não, mostrando a beleza da aeronave ou usando-a como fundo da foto de alguém ou dele mesmo...Com isso uma série de detalhes são bastante difíceis de se obter porque simplesmente nunca aparecem em fotos, ou quando aparecem, são incompreensíveis. Um bom exemplo é a dificuldade enorme que tenho pra fazer decalques de certos aviões da US NAVY: Os americanos costumam pintar o nome do piloto/tripulante do avião na armação da carlinga ou abaixo da janela onde esse tripulante se instala. Esse tipo de detalhe quase nunca é fotografado, ou nas fotos tiradas de longe, onde o avião aparece de "corpo inteiro" na foto, essas inscrições ficam muito pequenas e ilegíveis. Quando acontece desse detalhe se lograr legível, foi porque quem fotografou estava focando o piloto no cockpit, e buscava captar a fisionomia dele, daí se aproximava para fazer uma boa foto... Há detalhes bastante difíceis de se obter informação para decalques, por ficarem em partes das aeronaves que ninguém fotografa. Uma enormidade de versões ficam inutilizadas porque não consegui fechar 100% dos dados. Fazer um decal incompleto eu não faço, e agora então, que adotei como padrão fazer decalques completos, incluindo stencils, estes são muito difíceis de obter. Também acontece de haverem fotos tiradas em angulo difícil, o que exige uma correção de perspectiva. Alguns fabricantes de decalques, inclusive atualmente na moda, falham nesse sentido! Eu mesmo tenho decalques que comprei de outras marcas cuja foto que eles se basearam pra fazer determinado detalhe de uma versão eu também tenho, e eles fizeram o decal sem fazer a correção de perspectiva, fizeram o emblema torto em um decalque e espremido em outro! Um erro primário que eu me preocupo muito em evitar.

3-Qual o processo de pesquisa para definir a arte-final dos decalques?
R: O que eu entendo como processo de pesquisa é a busca por fotografias. Seria muito fácil e rápido fazer um decalque com base em perfis coloridos. Mas esses perfis coloridos que existem em livros são feitos por artistas, e por mais afamados que estes sejam, são artistas, o compromisso deles é com o belo, com a estética, não com a precisão histórica. Muitas vezes tais desenhos são feitos omitindo detalhes importantes, ignorados porque simplesmente apareceriam pouco, fariam pouca diferença, ou simplesmente não estavam disponíveis no primeiro momento... Além de erros de proporção ou cores.Eu mesmo ao preparar decalques para Albatros D.V (um caça alemão da Primeira Gerra) me deparei com um belo perfil numa edição dos livros da Osprey dedicada à ele, e resolvi incluir aquela versão em meu set. Quando passei as folhas do livro encontrei uma foto do avião real e ao comparar a foto com o perfil, vi uma diferença brutal! Seria impossivel fazer aquela versão baseado no perfil por causa de faixas que circundavam a fuselagem do avião. O artista fez o perfil "nas coxas", simplesmente aplicou faixas paralelas no desenho, fica até difícil descrever...Por conta disso até posso ver perfis de aeronaves na hora de preparar um decal, mas só fecho uma versão depois de ver fotos do avião. Sem fotos, nada feito.

4-Como você decide qual arte será feita?
R: Eu escolho as versões para incluir no decal, primeiro com base na estética da versão. Modelista gosta de modelo bonito, daí é importante colocar versões que deixem o modelo bonito... Em segundo lugar a importância histórica da versão. Mas tudo isso subordinado a condição de conseguir fechar todos os detalhes da versão. São muitas as versões deixadas de lado porque não consegui fechar todos os detalhes. Outro fator é o numero de cores. Para imprimir o decalque, o custo final do serviço depende do numero total de cores presentes na folha. Para manter umpreço competitivo eu tenho que evitar que no decal hajam mais que dez cores, cada cor a mais faz o decal ficar mais caro, o que complica bastante. Pra se ter uma idéia, só no emblema do "Senta a Pua!" estão presentes sete cores! Por isso mesmo que eu tenha uma versão fechada, pronta, e os decalques dela sejam muito coloridos, se com a diferença de tons o total da folha ultrapassar muito o numero de dez cores na folha, eu deixo aquela versão para um decal futuro...

5-O material usado nos decalques é 100% nacional ou você precisa importar alguma coisa?
R: Sim, o material até agora é 100% nacional. O papel do decalque é fabriado aqui mesmo pela SANTISTA em bobinas de 80Kg que é cortado na gráfica para impressão manual. Aqui no Brasil apenas SANTISTA fabrica papel gomado para decalques, e este é feito na cor branca. A gráficaem separado encomenda a aplicação de uma camada extra de goma adesiva tingida de azul para o papel do decalque ficar com o mesmo aspectodos decalques importados. Lá fora a cor azul é do papel...Por esses dias em um contato com a gráfica eles me disseram que receberam um lote de papel para decalque importado, de qualidade superor ao nacionalsedo que em vez de ser azul, é na cor bege. Eu pedi para que usassem esse papel novo, já que com ele a ader6encia do decalque melhora, além de melhorar o serviço de impressão.A impressão do decal é feita manualmente, em silk-screen, usando tintas do tipo esmalte sintético próprias para uso em silk. assim como o filmetransparente que é um verniz.Somente a impressão de cores especiais é que representam problema por conta da inexistência de tintas nacionais com qualidade adequada, como porexempo as cores prateado e dourado. O prateado nacional não é bom e o dourado não existe! Pra simular tinta dourada é preciso misturar purpurinadourada (essa sim, importada) com o verniz transparente!

6-Existe alguma dificuldade legal, para reproduzir os emblemas militares e civis?
R: Nunca tive problemas desse tipo (felizmente). O uso de simbolos militares não tem conotação comercial, pois pertencem ao povo e o uso de simbolosde empresas aéreas é na verdade uma propaganda que é feita dessas empresas sem que estas paguem por isso! Nunca soube de problemas desse tipo nem com fabricantes de decalques nem de maquetes. Parece que alguma coisa desse tipo já aconteceu, especialmente nos E.U.A. Onde existe umatradição de processos judiciais por qualquer motivo... Até hoje só vi algum sinal desse tipo em kits da Italeri, que adota até a marca indicativa queseus kits são autorizados pela Boeing (nos kits de aviões desse fabricante), fora isso não vi mais nada até hoje, até porque essas empresas só enxergamgrandes quantias, e o que eles ganhariam cobrando "royalties" pelo uso das marcas em decalques seria um valor absolutamente desprezível...

7-O que você recomenda para a boa utilização do seu produto?
R: Não há nenhum macete especial para usar os decalques FCM. é claro que não são decalquestotlmente iguais aos importdos, até porque infelizmente aqui no Brasil não existem gráficas especializadas em decalques como lá fora. Nesse sentido o Mexico dá banho na gente aqui em termos de qualidade do parque gráfico... Mas para usar basta aplicar e deixar secar bem o decal.

8-Como você encara a concorrência das marcas estrangeiras?
R: A concorrência de outros fabricantes é relativa, só aconteceria pra valer se os decalques feitos por mim e por eles fossem exatamente iguais, ainda que um faça uma versão igual àquela encontrad em um decal de outro fabricante, sempre há mais de uma versão que faz a diferença. Concorrência só aconteceria de verdade se os decalques só oferecessem uma única versão... Fora isso tem a diferença de mercado, nem todas as marcas estão disponíveis em todo lugar, e tem também a longevidade dos próprios decalques. Lá foraos fabricantes fazem tiragens limitadas, os decalques FCM só são retirados de mercado por obsolência, como aconteceu com vários agora, depois de 10 anos disponíveis, mas que vão retornar, com upgrades!

9-Na sua opnião, qual o diferencial do seu produto?
R: O diferencial que ofereço é a diversidade, além garantia que dou quanto a defeitos de fabricação que por acaso passem despercebidos. As vezes acontecede alguns usuários em vez de me procurarem para buscar uma solução, se lançarem em público para atacar a qualidade da marca FCM, sem em nenhum momento vir a mim, todos os que me procuraram eu resolvi sem maiores complicações. São poucos os fabricantes que mantem um canal direto com os usuários e nem todos sabem aproveitar isso.Fora isso tem o detalhe evidente que é a prioridade dada às versões brasileiras, que só um fabicante "BR" pode dar... E também busco entrar em áres de interesse que são ignoradas por outros fabricantes.

10-Finalmente, quais os seus planos para o futuro da FCM Decalques?
R: Não trabalho com planos futuros... As tendências de mercado são muito flutuantes e pra se sobreviver nesse mercado é preciso ter dinamismo pra se adequar a essas mudanças. Não muito tempo atrás eu nem poderia pensar em fazer decalques diferentes de FAB, ou fazer decalques para kits 1/144. Já hoje eu reconheço a escala 1/144 militares como um mercado muito promissor, junto com a escala 1/32.Enfim qualquer tema é viável quando o trabalho éeito com seriedade e qualidade. O melhor termômetro pra isso é o mercado externo, que sempre compra o produto quando este é bom. o Mercado de decalques é bem estreito, e é preiso sempre inovar, apresentar novidades. Eu me beneficio dos muitos anos de modelista para sentir no mercado o que seria uma "boa pedida" para o momento.

4 comentários:

Juliano disse...

Mto legal a entrevista!!

Anônimo disse...

Meus parabéns pelo Blog! Muito boa a entrevista com o Felipe, da FCM.
Sucesso! Guimarães.

Unknown disse...

Boa noite Felipe!! Gostei dessa entrevista, estou precisando desse papel para decalque, vc poderia me informar onde comprar? agradeço sua atenção

Felipe disse...

Christian, desculpe os quase dois anos de demora pra responder, mas o papel gomado que falei só se presta para impressão de decalques em silk-screen, para impressão caseira voce deve procurar por decalques especificos para esse fim, os importados são melhores.
Inclusive nesses anos a própria FCM evoluiu, o mercado hoje está mais exigente e eu ficaria para trás se continuasse imprimindo decalques aqui no Brasil. Hoje os decalques FCM são impressos nos EUA, na MicroScale.

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